Inclusão de novas rotas fortalecem o mercado de cabos submarinos do Brasil

O mercado de cabos submarinos do Brasil nunca esteve tão aquecido. A expectativa é que até o término de 2019, o Brasil tenha 16 cabos em operação, dobrando a capacidade de tráfego existente hoje. 

Atualmente, em operação no Brasil estão: os cabos Sam-1, South American Crossing (SAC), Globenet, AMX, Seabras-1, Monet, Junior, Tannat, Americas-2, Atlantis-2 e um cabo próprio da Embratel, que conecta a costa brasileira (BrazilianFestoon).

No mundo hoje, mais de 90% do tráfego de internet circula por meio de cabos submarinos. As novas aplicações, como transmissão de vídeos em altíssima definição, realidade aumentada e o 5G apontam para um aumento de tráfego e de demanda por banda cada vez maior. Ou seja, se não existissem cabos submarinos, não seria possível conversar, trocar imagens, vídeos e etc.

Neste sentido, a construção de data centers em metropóles (como São Paulo e Rio de Janeiro) para dar conta dessa demanda, que só tende a aumentar, impactam diretamente na necessidade de redes com uma capacidade de tráfego cada vez maior. 
Atenta à efervescência do setor, a Equinix, que foi escolhida pela Angola Cables para receber os equipamentos do Cabo Monet, que ligará Estados Unidos e Brasil; também pela Seaborn Networks, para atuar como centro de conexão do cabo Seabras-1, único sistema de cabo submarino com conexão direta entre São Paulo e Nova York, lista os impactos das novas rotas submarinas para o mercado brasileiro. Confira, a seguir, a entrevista exclusiva com Tito Costa, gerente de desenvolvimento corporativo e estratégia da Equinix Latam.

DCD: Como a Equinix avalia a alta do mercado de cabo submarino brasileiro?

T. C.: Nós entendemos como uma oportunidade para o mercado brasileiro experimentar uma redução dos preços de telecom e da internet, de maneira geral. Alguns estudos já apontam um declínio no preço por conta desses novos cabos que começaram a operar no final de 2017. Um link de 10 GB entre SP e Miami - benchmark que usamos para falar da América Latina - em 2010 custava cerca de R$ 120 mil. Hoje, esse mesmo link custa cerca de R$ 60 mil e já existem empresas praticando preços até menores do que isso.

A Equinix percebe essa melhora principalmente em relação aos preços mais acessíveis que vêm dessas novas arquiteturas de deployment de cabos que estão chegando em data centers altamente conectados e que aceleram os negócios. Afetam positivamente a performance de provedores de cabos submarinos, de novas empresas, novos consórcios, o que favorece a redução de preços trazendo um benefício enorme para o mercado brasileiro. A Equinix se posiciona como esse player neutro que está recebendo esse cabo submarino e ajudando a movimentar a economia.

DCD: A escolha da Equinix por parte da Angola Cables foi muito comemorada? Como foi o processo de seleção?

T. C.: Um dos fatores que atribuímos a escolha da Equinix é que estamos percebendo uma mudança de cunho técnico. Antigamente, nos anos 2000, os cabos chegavam nas costas dos países e eram instalados em “cable landing stations” (CLS) - que é uma pequena construção na beira ou muito próximo à praia onde se instalam os equipamentos do cabo submarino (ópticos, elétricos) que ficam lá armazenados.

A grande mudança que estamos vendo acontecer agora é que as empresas estão começando a perceber a vantagem em não mais instalar esses equipamentos nesses locais, mas em movê-los para dentro de data centers altamente conectados e seguros. Além da questão da neutralidade, existe um apelo técnico que envolve a transferência de equipamentos para o data center, facilitando a operação desse cabo no dia a dia.

Com o processo da Monet do qual a Angola Cables faz parte, comemoramos o primeiro deployment de um cabo submarino que não chega por meio de uma CLS, mas direto dentro nosso data center - o que já acontece em Boca Raton (próximo à Miami). Infelizmente isso não foi possível no Brasil, pois o cabo chega em praia grande e nossos data centers estão concentrados na região da capital, mas isso não impediu que a Angola Cables, um dos maiores parceiros, também se tornasse nosso cliente em São Paulo. 

DCD: Quais data centers da Equinix estarão conectados ao Cabo Monet?

T. C.: Nos Estados Unidos, por meio do MI3, em Boca Raton e chegada ao Brasil em uma "landing station" proprietária no litoral de São Paulo e, de lá, por meio de um backhaul, chegam os participantes do Monet na SP3, em Santana do Parnaíba, região metropolitana de São Paulo.

DCD: Qual é o papel da Equinix no projeto do Cabo Seabras-1?

T. C.: Este é um cabo que pertence a Seaborn Networks, empresa liderada por um grupo de investidores que não estão ligados à telecom. Eles revendem capacidade do cabo no modelo de atacado. Essa parceria representa o que acreditamos ser o futuro de modelo de negócios para cabos submarinos. Ou seja, uma empresa que está interessada na velocidade de retorno sobre investimento, que opera um cabo de altíssima qualidade, hospedando-o dentro de um data center ricamente conectado. Neste formato, o cliente consegue comercializar o cabo de forma bastante rápida e prática, para diversos players, e no mesmo ponto sem barreiras de negócio por estar operando em um datacenter carrier neutral (que não pertence a nenhuma operadora de telecom). 

O papel que a Equinix traz para o negócio são os ecossistemas de telecom, cloud, conteúdo que são amplamente conectados com quase 10 mil empresas. A Seaborn está presente em todos os nossos data centers em São Paulo e de Nova York. A Seabras-1 é a rota mais curta, com menor latência do mercado financeiro no eixo SP-NY. Além disso, os data centers da Equinix são os mais próximos das bolsas de valores dessas duas regiões metropolitanas.

DCD: Por que a Equinix acredita que foi escolhida pela Angola Cables e pela Seaborn?

T. C.: Por conta do ecossistema densamente conectado, com a presença de diversas operadoras e possibilidade de negócios, a Equinix facilita a comercialização para as empresas presentes em seus data centers e possibilita novos negócios.

DCD: Como você descreveria a indústria de comunicações submarinas hoje?

T. C.: A indústria passou por dois grandes momentos: no fim dos anos 90/início de 2000 com a privatização do mercado de telecom brasileiro, quando começaram a construção de importantes cabos submarinos na América Latina; e a partir de 2015, quando surgiram os novos cabos, que pudessem atender às novas demandas de mercado. Os primeiros cabos seguem em operação até hoje, mas com um modelo de negócios e uma capacidade instalada que está dando lugar a uma nova arquitetura com novos players participando do mercado. 

Uma característica até então muito comum em 2000 era a formação de consórcios de operadoras de telecom para a viabilização dos projetos de construção e implementação dos cabos, por serem extremamente caros. Os cabos, então, chegavam nas regiões ou nos países, dentro de data centers de pontos de presença de uma dessas operadoras do consórcio. Já a partir de 2015, eles passaram a ser ofertados em um data center, no qual todas as operadoras conseguem se conectar e atingir o mundo inteiro, sem barreira comercial, acelerando o próprio retorno do investimento.

O projeto Monet, de 2015, foi o início da participação de grandes players no mercado, com um modelo bem diferente daquele protagonizado pelos antigos consórcios de telecom. Hoje, o projeto envolve grupos de cloud service, de contents providers, como Amazon, Google, Facebook e Microsoft, etc. O Google é um player que está junto com outras operadoras de telecom, dentro do consórcio do Monet, por exemplo. Neste novo modelo, existem investidores, mas não mais em formato de consórcio.

No caso do cabo Seaborn, por exemplo, a empresa é constituída para operar e manter o cabo submarino e revender este cabo para outras operadoras de telecom. À rigor não tem nenhum tipo de rede metropolitana, opera no segmento de wholesale (atacado) do mercado de cabos submarinos vendendo capacidade para outras operadoras do mercado de telecom - essa é mais uma forma de investimento de cabos submarinos que também surge dentro da nova onda que surgiu de 2015.

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